por: Carla Maricato

Num dos poços das minas situadas na Serra de Santa Justa no decorrer dos trabalhos de topografia deste local, foi encontrada no meio de entulho uma lucerna romana. Este achado de grande interesse arqueológico, vem dar mais uma achega ao conhecimento da exploração mineira por parte dos romanos. Já verificamos o teor da sua utilização em contexto mineiro. Faremos agora uma pequena abordagem quanto à sua tipologia e cronologia, deixando algumas reservas quando a certezas, uma vez não podermos chegar a conclusões precisas acerca desta temática.

Como podemos verificar através da foto aqui apresentada, observamos no discus uma figura feminina alada virada para o lado direito segurando um disco – “Clipeus”, que se encontra em cima de uma espécie de coluna que podemos identificar como um altar. O disco é rodeado por uma orla decorada em linhas.

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Esta figura pode ser atribuída a Vitória, sendo um dos motivos decorativos mais frequentes desde o século I (segundo Maria Elisabeth Cabral). Ao longo da pesquisa por nós elaborada para a realização deste pequeno artigo, pudemos observar diversas representações desta imagem (e que apresentamos algumas dessas reproduções fotográficas). No entanto, nenhuma imagem se assemelha à de esta lucerna, não encontrando nenhum paralelo (excepto a que haverá sido encontrada neste local em 1961). Este motivo decorativo é bastante comum em muitas das publicações ao nosso dispor, referentes a alguns locais no nosso território. Nas Lucernas romanas de Conímbriga, encontram- se publicados alguns exemplares de lucernas representando a Vitória alada em diversas posições( com e sem disco na mão), embora nenhuma das ilustrações apresente lucernas com asa. A mesma situação é observada nas publicações de Maria Elisabeth Cabral – Lucernas de Alcácer do Sal, e de Gonçalo Lyster Franco- Lucernas romanas. Verificamos que apesar do motivo decorativo ser semelhante, a tipologia é no seu todo diferente.

O bico não foi conservado, apenas se pode observar o seu arranque, onde está situado um ponto em relevo.
A asa por sua vez é perfurada e encontra-se em perfeito estado de conservação. Observando todos os pormenores reconhecemos que se trata de uma lucerna de tipologia Dressel 20 e Ponsich III b2.

Por sua vez, a base encontra-se parcialmente conservada onde se verifica o início da marca do sigilo. M perfeitamente visível, e o início de V. O sigilo está rodeado por um círculo. Tudo nos leva a crer tratar-se da oficina de MVNTREPT, um atelier do oleiro norte africano (L. Munatius), (Belchior, 1969). Jorge Alarcão faz-nos também referência a esta oficina em Braga, onde foram encontrados dois moldes com esta marca, datando-a do século I. Supondo que haveria uma sucursal deste atelier ou de que o molde havera sido vendido para esta área peninsular.

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