Complexo Cársico do Cabeço da Pedra do Sino

Complexo Cársico do Cabeço da Pedra do Sino

Artigos

por: Raquel Regala & Rui Fernando Luís

Resumo

O estudo que aqui se apresenta foi realizado pelos elementos da Associação de Estudos Subterrâneos e Defesa do Ambiente – Torres Vedras, Portugal no decorrer de 1999/2000 e 2001.

Localizado na Maceira (Lisboa – Portugal), era constituído inicialmente por um conjunto de pequenas grutas (entradas), inseridas nos calcários do Vimeiro (Kimeridgiano superior), o qual veio a revelar-se após trabalhos de desobtrução e topografia num sistema de configuração ortogonal com 11 entradas e 900m de desenvolvimento. Iremos demonstar com este estudo que o complexo é de formação freática superficial.

Localização

O cabeço calcário (designado localmente por Cabeço da Pedra do Sino) onde está instalada a Cova do Texugo localiza-se no distrito de Lisboa junto ao limite dos concelhos de Torres Vedras e da Lourinhã encontrando-se no entanto dentro deste último, a SE da aldeia de Ribamar e a NNE da aldeia da Maceira, distando destas, em linha recta, cerca de 625 m e 1250 m, respectivamente.

Junto à vertente Este do cabeço observa-se a Falha da Lourinhã com direcção NNE-SSW. O acesso é normalmente feito a partir da Maceira, ao longo da margem da Ribeira de Ribamar, a qual desagua no rio Alcabrichel.

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Geologia e Geomorfologia da Região

A Cova do Texugo está inserida no topo da unidade Calcários do Vimeiro (pertencente às Camadas de Alcobaça) a qual aflora desde Casais dos Netos, a Norte, até próximo de Casais do Arneiro, a Sul.

Segundo o corte de F. P. Teixeira Silva, 1989, a unidade é constituída, da parte média-baixa para o topo, por calcários por vezes fortemente bioclásticos (algas calcárias), em geral com oncólitos e com grande abundância de macrorrestos, evoluindo o conjunto para calcários mais compactos e mais pobres em fauna. A sedimentação desta unidade, com uma espessura de cerca de 160 m, deu-se num ambiente francamente marinho, de pouca profundidade e de fraca energia, ainda que bem iluminado e oxigenado. Da base para o topo foram notadas oscilações nas características do ambiente marinho (fenómenos de regressão e transgressão da água do mar). Esta unidade está sobre um provável anticlinal salífero (MANUPPELLA et al., 1999).

A idade da formação Calcários do Vimeiro é atribuída ao Kimeridgiano superior devido ao estudo micrográfico do corte, realizado sob orientação de M. M. Ramalho, que identificou a presença de Alveosepta jaccardi Schrodt, Campbelliella striata (Carozzi) e Everticyclammina virguliana Koechlin (MANUPPELLAet al., 1999).

O afloramento constituido pelos Calcários do Vimeiro rodeia um vale tifónico, onde se situa a Maceira, originado pela extrusão das Margas de Dagorda datadas do Hetangiano, injectada na falha da Lourinhã. Os vales tifónicos, segundo a definição do eminente geólogo Paul Chauffat, são limitados por séries de falhas e têm o fundo levantado através dos terrenos mais recentes, e em contacto com estes, em todo o seu perímetro.

Estas áreas revestem-se geralmente de grande importância pelas nascentes hidrominerais que nelas brotam e pela presença de certos minerais, como gesso e sal-gema, entre outros factores (P. G. ANACLETO, 1965). Neste caso particular, o gesso aflora no núcleo do diapiro da Maceira /Vimeiro (G. C. FRANÇA et al., 1961) sem, no entanto, ser objecto de qualquer exploração.

Existe exploração, sim, de águas minerais pelas Termas do Vimeiro situadas no vale do rio Alcabrichel, efectuando a captação de duas nascentes, junto ao extremo SE do afloramento Hetangiano designadas por Rainha Santa Isabel e Fonte dos Frades. As águas da primeira emergem dos calcários enquanto que as da segunda nascente chegam à superfície pela falha de contacto entre as margas e os calcários.

Para além da falha da Lourinhã e do contacto diapírico observa-se ainda na carta um outro conjunto de falhas transversais à direcção da primeira. São os resultados de processos tectónicos e das fortes tensões a eles associadas, provocando também uma completa alteração na posição original dos estratos. Assim, ao longo do afloramento podem medir-se direcções e pendores muito diversos.

O cabeço onde está instalada a Cova do Texugo possui estratos que inclinam cerca de 15o para NW . A sua vertente Oeste é muito abrupta e o desnível de cotas da superfície do terreno, desde o seu ponto mais alto até ao leito dos cursos de água que ladeiam o cabeço, é apreciável pois, vai desde perto de 65 m até cerca de 35 m a Este e 45 m a Oeste, respectivamente.

O fundo do vale associado à vertente Oeste assemelha-se a um pequeno Canyon que se terá formado pela acção do rio. Existem lapiás de arestas arredondadas, à superfície, por cima do sistema subterrâneo, e no vale Oeste há uma zona de abatimento do tecto de uma cavidade que parece ajustar-se à definição de uma forma cársica designada por Canhão Cársico.

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Espeleogénese e Descrição das Grutas

O complexo em estudo detem uma extensão total de aproximadamente 900m de galerias de média dificuldade de progessão, seguindo as horientações da fracturação (diaclases) do estracto cálcário em que se insere. Estas horientações quase perpendiculares, promovem um rendilhado de galerias labirinticas porporcionando uma exploração complexa, apenas conseguida pelo suporte topográfico. O sistema possui na totalidade 11 entradas, que se subdividem em três zonas do Cabeço em Estudo.

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Na Zona Norte do cabeço, encontra-se a Oeste Cova do Urso. Gruta que atravessa o Cabeço de Oeste para Este, com galerias em forma oval/vertical com máxima altura de 8 metros. Medianamente concrecionada, aumentando para o seu interior, apresentando com frequência estalactites e estalagmites. Ao nivel do solo, os enchimentos de argila são frequentes na parte final da gruta. Esta gruta tem apenas ligação com a Cova da Chifruda, por intermédio de uma galeria muito estreita (20 cm) e alta (4m).

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A Cova da Chifruda (Zona Norte), possui uma entrada semi-vertical, e no seu interior um poço de 4m que garante o acesso para a mesma cota da Cova do Urso. No seu interior verifica-se a existência de galerias mestres (segundo as diaclases) e salas muito baixas, possuindo ainda inumeros depósitos de argila e zonas bastante concrecionadas. Esta gruta por sua vez, não apresenta qualquer ligação suficientemente ampla que permita a passagem para o restante complexo (Cova do Texugo e Pedra do Sino), apesar da próximidade 38me da idêntica disposição de galerias.

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Na Zona Central, e viradas para Oeste, estão presentes a Cova da Presa e Lapa do Meio. Estas duas grutas, de pequena dimensão representam antigas entradas para todo o sistema, encontrando-se neste momento obstruidas com argila consolidada de difícil desobtrução. Ainda assim, observam-se as galerias mestres orientadas para o interior do cabeço. Estas pequenas entradas apresentam-se com um enchimento de argila muito elevado ao nivel do solo. Também na Zona Central, mas a Este, existe a Lapa da Pulga; uma das 4 entradas a Este para o sistema principal de galerias. A Lapa da Pulga possui em toda a sua extenção e ao nivel do solo grandes quantidades de argila. A ligação para a Cova do Texugo é conseguida por intermédio de uma galeria com um desnível de 4m muito estreita (0.3m).

Conclusão

web-Complexo-Carscico-da-Maceira-Untitled-37aDada a configuração das galerias que compõem o sistema e este estar situado entre 2 linhas de água, somos levados a crer, que se formou inicialmente devido à variação do nivel freático associada à escavação do leito da ribeira de Ribamar (Shalow Phreatic or Water Table Theories – Swinnerton, 1932). Tal fenómeno aconteceu num periodo em que a linha de água que passa a Este se encontrava a uma cota bem mais elevada do que actualmente. Posteriormente com a acentuação do desnível da linha de água a Este, deu-se o alargamento de algumas galerias por acção mecânica, provocada por águas correntes. Pensamos também que a grande acumulação de sedimentos que se verifica ao longo de quase todo o complexo, ocorreu num espaço de tempo bastante curto (última camada muito espessa e homogénea), possivelmente devido à utilização agricola dos terrenos a Norte.

Bibliografia

MANUPPELLA G., ANTUNES M. T., PAIS J., RAMALHO M. M., REY J., 1999-Carta Geológica de Portugal. Notícia explicativa da folha 30-A-Lourinhã. Instituto Geológico e Mineiro.

ANACLETO P. G., 1965-Características geológicas e climáticas da região termal do Vimeiro (Torres Vedras). Boletim de Minas, vol. 2, nº 2: 67-74.

FRANÇA J. C., ZBYSZEWSKI G., ALMEIDA F. M. de, 1961-Carta Geológica de Portugal. Notícia explicativa da folha 30-A-Lourinhã. Serviços Geológicos de Portugal.

SEIFERT, H., 1963-Nota sobre a hidrogeologia do complexo calcário dos flancos do diapiro do Vimeiro;

Seifert, H., 1963-Relatório sobre a hidrogeologia e génese das águas do Vimeiro.

Fojo das Pombas - Fojo Sagrado - Alçado

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A execução deste trabalho permitiu-nos estabelecer contactos com a Câmara Municipal de Valongo, com o propósito de se tomarem medidas para a preservação dos fojos, tendo sído apresentada a aliciante de transformar as minas num polo de atracção turística, pois julgamos ser a única forma de puxar as atenções autarquicas. Com base na topografia está a ser estudada a viabilização de um percurso para o público, que não afecte a população de morcegos e outros biótopos, nem as possíveis áreas arqueológicas, tendo em conta a integridade histórica e estética da cavidade. Salienta-se o apoio que nos foi prestado pelo G.E.V.-Grupo Espeleológico de Valongo, na localização de algumas galerias, fornecimento de dados e bibliografia sobre os fojos e a Serra de Santa Justa.

Durante o tempo de execução deste projecto, o G.E.V. efectuou um esplêndido trabalho de remoção dos entulhos no interior da mina e colocou grades de eucalipto à entrada dos poços para dificultar os despejos. Discutimos com os elementos do G.E.V. questões relacionadas com a preservação e estudo das minas no seu conjunto e está em estudo neste momento uma cooperação entre estas associações para próximas em Valongo.

A Preservação

A realização deste projecto proporcionou uma grande quantidade de informações e documentos que podem vir a ser utilizados para a conscencialização sobre a importância do Fojo das Pombas em múltiplos aspectos.

As recolhas de imagens em vídeo e fotografia demonstram a magnificiência da mina e trazem à luz o deplorável espectáculo que são as zonas com despejos. Muitas destas imagens estiveram já expostas ao público na galeria municipal de Torres Vedras e nas Caldas da Raínha.

Durante os trabalhos, encetaram-se contactos proveitosos com o G.E.V., permitindo um esforço conjunto muito mais eficaz, uma vez que são comuns os objectivos de ambas as entidades no que se refere aos fojos.

Os contactos com a câmara Municipal de Valongo levaram a uma tomada de consciência da importância desse património por parte dos autarcas locais, germinando as ideias de preservação e aproveitamento turístico dos fojos e toda a área circundante. Desta forma, ficaram em aberto diversas novas iniciativas, de todo positivas para a área natural de Santa Justa.

Em suma, consideramos sem dúvida positivos os resultados obtidos, esperando que esta publicação seja um meio para alertar a todos a necessidade de preservar o espaço natural.

As Minas Romanas de Valongo

As Minas Romanas de Valongo

Artigos

por: Frederico Tátá Regala

As minas romanas da Serra de Santa Justa foram durante muito tempo utilizadas como vazadouro dos mais variados lixos. No seu interior corre um curso de água que, passando pelos detritos, surge no exterior sob a forma de uma nascente, que é usada para regas agrícolas. A A.E.S.D.A. Topografou o Fojo das Pombas e estudou o seu circuito hídrico, com o principal intuito de prevenir situações de perigo ao nível da saúde pública e também, para dar os primeiros passos numa perspectiva de defesa e preservação do complexo mineiro.

Os problemas ambientais relacionados com as águas subterrâneas têm vindo a merecer uma atenção mais aprofundada por parte das associações, autarquias e até do grande público. São conhecidos os efeitos nefastos da poluição nos lençóis freáticos e cursos de água subterrâneos, mas abundam persistentemente os casos de despejo de lixos, entulho e substâncias tóxicas para o interior de grutas e minas. Na Serra de Santa Justa em Valongo, sucedem precisamente as referidas situações.

A existência de um complexo sistema mineiro inactivo, com diversas comunicações para a superfície (fojos) tem, desde há longo tempo, sido o “lugar ideal” para fazer desaparecer quantidades imensas de lixo e entulho. Para quem visitava o interior da mina o espectáculo era sem dúvida revoltante: Pneus, plásticos, latas de tinta, cadáveres de animais em decomposição e até a carcaça de um automóvel, faziam parte do fabuloso conteúdo das galerias, enviado através dos poços. Para agravar a situação, um curso de água estigial banhava todos estes elementos, percorrendo a mina, até finalmente aparecer no exterior, pronta a ser consumida pela população. A equipa da  A.E.S.D.A. recolheu informações diversas que levaram à conclusão de que esta água é conduzida frequentemente para regas agrícolas.

Aspectos gerais

Minas Romanas de ValongoA serra de Santa Justa, situada no Concelho de Valongo, Distrito do Porto, é constituída por ardósias e possui uma cobertura vegetal rica em espécies herbáceas e marcada pela presença maioritária do Pinheiro bravo Pinus pinaster. Em altitude atinge a cota máxima de 374 metros.

O Fojo das Pombas é provavelmente o mais extenso complexo mineiro da região, tendo o auge da sua exploração sucedido durante a época romana, para a extracção de ouro. As galerias atingem níveis profundos, existindo poços que que atingem aproximadamente 70 metros abaixo da superfície até ao nível da água. Algumas galerias encontram-se totalmente inundadas, desconhecendo-se os seus limites. Só as galerias secas atingem cerca de mil metros de extensão. Comunicam 9 poços com o exterior, tendo ainda sido identificados mais 3 entulhados. Existe uma monumental fenda cuja abertura possui 40 por 8 metros, proporcionando um local privilegiado para a proliferação de plantas lucífugas e hidróphilas tais como, musgos, hepáticas e fetos, entre outras, das quais existem espécies consideradas raras pelos botânicos e até endémicas dos fojos da regiâo.

Sob o ponto de vista faunístico, observa-se uma manifesta variedade de formas, especialmente invertebrados, sobre os quais, apesar das nossas pesquisas bibliográficas, não tomámos conhecimento de estudos de vulto, pelo que pensamos haver muito trabalho a realizar nesta vertente do conhecimento dos fojos. A A.E.S.D.A. efectuou numerosas recolhas para posterior investigação, que se encontram conservadas e arquivadas em Torres Vedras na sede da Associação. A evidente riqueza biológica da mina levou-nos a fundamentar ainda mais a importância da preservação deste património no seu conjunto. Também o aspecto arqueológico consubstancia o valor patrimonial dos fojos e da Serra.

A extracção de minério durou vários séculos de uma das mais importantes fases germinais da civilização: A época romana, e atribui-se, segundo alguns autores, a tempos ainda mais remotos. A envergadura dos trabalhos de mineração realizados neste local, implicaram o uso de equipamentos e métodos cujo estudo pode revelar importantes dados para a compreensão da tecnologia de minas romana. O desentulhamento de um poço por Adalberto Dias de Carvalho do Serviço de Fomento Mineiro em 1961, revelou diversas peças cerâmicas e metálicas, assim como elementos constituintes das entivações de madeira, que constituem espólio de elevado interesse arqueológico. Seguramente, muito mais existe para exumar em toda a área, porém, se os despejos continuarem alguns poços ficarão de tal modo bloqueados que poderão inviabilizar as intervenções arqueológicas.

A investigação

Estalactite de óxido de ferro

Descida para a Praia

Durante uma primeira fase, os elementos da A.E.S.D.A.,  levaram a cabo uma exploração exaustiva de todos os poços, salas e galerias, da qual resultou a descoberta de mais de 600 metros de túneis, completamente desconhecidos até então pelos organismos que têm desenvolvido actividades no local. Existe, no entanto, uma referência escrita dos anos 30 que descreve esses espaços, pela mão de um padre que teria aproveitado um período de invulgar seca para entrar pela galeria de escoamento das águas, penetrando em lugares só acessíveis em condições normais, através do uso de equipamentos de mergulho ou de Espeleologia. Este factor imprevisto veio aumentar substancialmente o trabalho necessário para a conclusão do projecto. Durante a exploração observou-se a existência de galerias completamente inundadas cujos limites desconhecemos por falta de equipamento de mergulho adequado às singularidades da progressão. Talvez a mais importante descoberta efectuada nesta primeira fase, foi a existência de uma numerosa colónia de morcegos, com centenas de indivíduos da espécie Miniopterus Schreibersii, imediatamente comunicada ao Prof. Jorge Palmeirim da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, responsável pelo “Plano Nacional de a Conservação dos Morcegos Cavernícolas”, O qual se deslocou posteriormente ao local, Juntamente com a Prof. Luísa Rodrigues, para apreciação da colónia.

A segunda fase compreendeu o levantamento fotográfico dos pontos mais relevantes deste espaço subterrâneo, com o uso de gerador, projectores e rolos especiais para iluminação a Tungsténio. Para este efeito, foram utilizados 1000 wats de iluminação, 500 metros de cabos eléctricos e o uso de intercomunicadores para sincronização com os trabalhos à superfície, relacionados com o gerador e o envio de material da superfície para as galerias, através dos poços. Foi igualmente elaborada uma reportagem em video no sistema HI 8 para ilustrar convenientemente os trabalhos e para uma visualização eficaz do monumental sistema de espaços. Todo este material de recolha foi concebido, tendo em vista a apresentação em colóquios, congressos e sessões de esclarecimento público, para sublinhar a importância do Fojo das Pombas junto da comunidade espeleológica, público e autarquias ligadas à região.

A terceira fase revelou-se a mais trabalhosa e consistiu no levantamento topográfico de todo o sistema, desenhado à escala 1/250, com planta geral, alçado rebatido e cortes. Incluíram-se observações sobre aspectos morfológicos mais importantes. Das galerias inundadas, a única que se encontra topografada é o esgoto ou túnel de drenagem da mina, o que permitiu verificar as suspeitas de que a água que percorre a mina desemboca no exterior junto à Rua da Rosa em Valongo. Na execução da topografia foi utilizado equipamento específico, recorrendo-se a um Teodolito (T0) da Wild, a bússolas e a clisímetro. O detalhe e exactidão que se atribuiu a este trabalho tornou-o significativamente moroso e dispendioso. Os desenhos que enviamos em anexo neste relatório, não são a versão final, estando actualmente a ser concluídos para que adquiram os moldes definitivos para efeitos de publicação. Através da topografia, está a ser estudado o circuito hídrico para que possamos avançar com mais conclusões quanto ao destino das águas inquinadas pelos detritos lançados da superfície.

Numa última fase, foram feitas recolhas de amostras de água na nascente da Rua da Rosa,  que curiosamente não mostraram índices de poluição apreciáveis ao nível bacteriológico. Aguardamos os resultados das análises químicas a efectuar por alunos da Faculdade de ciências e só então, dependendo dos resultados, poderemos formar um plano de prevenção ou não quanto à utilização da água para fins agrícolas. Caso estas análises de carácter informal em termos legais, mas igualmente rigorosas, apresentem valores que suscitem precauções, efectuar-se-ão análises em laboratório oficial, para que não surjam quaisquer dúvidas a entidades alheias.

Fojo das Pombas - Fojo Sagrado - Alçado

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A execução deste trabalho permitiu-nos estabelecer contactos com a Câmara Municipal de Valongo, com o propósito de se tomarem medidas para a preservação dos fojos, tendo sido apresentada a aliciante de transformar as minas num pólo de atracção turística, pois julgamos ser a única forma de puxar as atenções autárquicas. Com base na topografia está a ser estudada a viabilização de um percurso para o público, que não afecte a população de morcegos e outros biótopos, nem as possíveis áreas arqueológicas, tendo em conta a integridade histórica e estética da cavidade. Salienta-se o apoio que nos foi prestado pelo G.E.V.-Grupo Espeleológico de Valongo, na localização de algumas galerias, fornecimento de dados e bibliografia sobre os fojos e a Serra de Santa Justa.

Durante o tempo de execução deste projecto, o G.E.V. efectuou um esplêndido trabalho de remoção dos entulhos no interior da mina e colocou grades de eucalipto à entrada dos poços para dificultar os despejos. Discutimos com os elementos do G.E.V. questões relacionadas com a preservação e estudo das minas no seu conjunto e está em estudo neste momento uma cooperação entre estas associações para próximas em Valongo.

A Preservação

A realização deste projecto proporcionou uma grande quantidade de informações e documentos que podem vir a ser utilizados para a consciencialização sobre a importância do Fojo das Pombas em múltiplos aspectos.

As recolhas de imagens em vídeo e fotografia demonstram a magnificência da mina e trazem à luz o deplorável espectáculo que são as zonas com despejos. Muitas destas imagens estiveram já expostas ao público na galeria municipal de Torres Vedras e nas Caldas da Rainha.

Durante os trabalhos, encetaram-se contactos proveitosos com o G.E.V., permitindo um esforço conjunto muito mais eficaz, uma vez que são comuns os objectivos de ambas as entidades no que se refere aos fojos.

Os contactos com a câmara Municipal de Valongo levaram a uma tomada de consciência da importância desse património por parte dos autarcas locais, germinando as ideias de preservação e aproveitamento turístico dos fojos e toda a área circundante. Desta forma, ficaram em aberto diversas novas iniciativas, de todo positivas para a área natural de Santa Justa.

Em suma, consideramos sem dúvida positivos os resultados obtidos, esperando que esta publicação seja um meio para alertar a todos a necessidade de preservar o espaço natural.

Noticia da Recolha de Exemplares do Ixodes (Eschatocephalus) vespertilionis

Noticia da Recolha de Exemplares do Ixodes (Eschatocephalus) vespertilionis

Artigos
por: Frederico Regala e Rui Mergulho

Descrição, Generalidades

Ixodes (Eschatocephalus) vespertilionis (Acarina, Ixodidae) Segundo Gil, 1948
Ixodes (Eschatocephalus) vespertilionis (Acarina, Ixodidae) Segundo Gil, 1948

Vulgarmente denominado carraça dos morcegos, o I. vespertilionis é um ectoparasita hematófago cujos hospedeiros exclusivos são Quirópteros. Trata-se de um ácaro da família Ixodidae e pertence ao subgénero Eschatocephalus (Fraunfeld, 1853), no qual se inclui apenas esta espécie, que segundo J. Tendeiro (1962), apresenta as seguintes características morfológicas:

MACHO – Corpo oval alongado. Escudo dorsal mal definido, comprido e estreito, não cobrindo todo o corpo. Sulcos cervicais superficiais e divergentes. Sulcos laterais ausentes. Pontuações grandes dispostas em três fiadas, uma mediana e duas laterais; pontuações intersticiais dispersas.

Superfície Ventral: Escudo mediano pentagonal, bastante largo; escudo anal oval alongado, mais curto que os escudos adanais e limitado por sulcos anais compridos, um pouco divergentes atrás. Orifício genital ao nível do espaço entre as coxas II e III. Capítulo muito pequeno. Palpos curtos e claviformes. Hipostoma atrofiado e com dentição mal definida.

FÊMEA – Escudo dorsal alongado, alargando-se na parte média, com numerosas pontuações intersticiais. Sulcos laterais mais vincados atrás do que à frente e estendendo-se até aos bordos posterolaterais do escudo. Sulcos laterais ausentes. Sulcos anais compridos, paralelos na sua porção pós-anal e formando à frente uma elipse.

Orifício genital ao nível das coxas III. Base do capítulo larga e curta, saliente lateralmente. Áreas porosas grandes, subcirculares ou subtriangulares, pouco separadas uma da outra por uma crista mediana enrugada. Palpos normais, compridos e estreitos. Hipostoma comprido e afilado, com dentição 4/4 na porção anterior e 3/3 na posterior.

Este parasita tem sido observado em várias espécies de morcegos, nomeadamente: Rhinolophus ferrumequinum, Rhinolophus hipposideros, Vespertilis Kuhlii, Miniopterus schreibersii, entre outros. A sua distribuição geográfica abrange largas áreas paleárticas (Euroásia e África setentrional) estendendo-se até ao sul de África.

Sinonímia:

Ixodes flavipes C. L. Koch, Ixodes troglodites Schmidt, Sarconissus flavipes (Kolenati), Haemalastor gracilipes Kolenati, Sarconissus Kochi Kolenati, Sarconissus brevipes Kolenati, Sarconissus exaratus Kolenati, Eschatocephalus Fraunfeldi (L. Koch), Ixodes longipes Lucas, Ixodes siculifer Mégnin, Haemalastor vespertilionis (Kouch), Eschatocephalus vespertilionis (Kouch).