
Frederico Regala e Rui Mergulho
Descrição, Generalidades

Vulgarmente denominado carraça dos morcegos, o I. vespertilionis é um ectoparasita hematófago cujos hospedeiros exclusivos são Quirópteros. Trata-se de um ácaro da família Ixodidae e pertence ao subgénero Eschatocephalus (Fraunfeld, 1853), no qual se inclui apenas esta espécie, que segundo J. Tendeiro (1962), apresenta as seguintes características morfológicas:
Macho – Corpo oval alongado. Escudo dorsal mal definido, comprido e estreito, não cobrindo todo o corpo. Sulcos cervicais superficiais e divergentes. Sulcos laterais ausentes. Pontuações grandes dispostas em três fiadas, uma mediana e duas laterais; pontuações intersticiais dispersas.
Superfície Ventral: Escudo mediano pentagonal, bastante largo; escudo anal oval alongado, mais curto que os escudos adanais e limitado por sulcos anais compridos, um pouco divergentes atrás. Orifício genital ao nível do espaço entre as coxas II e III. Capítulo muito pequeno. Palpos curtos e claviformes. Hipostoma atrofiado e com dentição mal definida.
Fêmea – Escudo dorsal alongado, alargando-se na parte média, com numerosas pontuações intersticiais. Sulcos laterais mais vincados atrás do que à frente e estendendo-se até aos bordos posterolaterais do escudo. Sulcos laterais ausentes. Sulcos anais compridos, paralelos na sua porção pós-anal e formando à frente uma elipse.
Orifício genital ao nível das coxas III. Base do capítulo larga e curta, saliente lateralmente. Áreas porosas grandes, subcirculares ou subtriangulares, pouco separadas uma da outra por uma crista mediana enrugada. Palpos normais, compridos e estreitos. Hipostoma comprido e afilado, com dentição 4/4 na porção anterior e 3/3 na posterior.
Este parasita tem sido observado em várias espécies de morcegos, nomeadamente: Rhinolophus ferrumequinum, Rhinolophus hipposideros, Vespertilius Kuhlii, Miniopterus schreibersii, entre outros. A sua distribuição geográfica abrange largas áreas paleárticas (Euroásia e África setentrional) estendendo-se até ao sul de África.
Sinonímia
Ixodes flavipes C. L. Koch, Ixodes troglodites Schmidt, Sarconissus flavipes (Kolenati), Haemalastor gracilipes Kolenati, Sarconissus Kochi Kolenati, Sarconissus brevipes Kolenati, Sarconissus exaratus Kolenati, Eschatocephalus Fraunfeldi (L. Koch), Ixodes longipes Lucas, Ixodes siculifer Mégnin, Haemalastor vespertilionis (Kouch), Eschatocephalus vespertilionis (Kouch).
As Recolhas

No dia 29 de Setembro de 1990, no Algar das Gralhas na Serra de Montejunto, onde existe uma vasta colónia de morcegos da espécie Miniopterus Schreibersii (Kuhl, 1819), observámos doze morcegos, dos quais, dois se encontravam parasitados. Um era portador de uma larva e o outro hospedava duas ninfas.
Como viemos a aperceber-nos mais tarde, é frequente que o hospedeiro seja portador de duas ou mais carraças. A 18/09/1991 voltámos ao local e observámos mais vinte e cinco Miniopterus Schreibersii, sendo que oito deles eram portadores de Ixodes vespertilionis num total de 16 exemplares onde se incluem dez fêmeas, uma ninfa e cinco larvas. Curiosamente, não foi descoberto um único macho.
Foram ainda examinados quatro morcegos do género Myotis, que não hospedavam o Ixodes vespertilionis.
Parte das recolhas foram enviadas para o Centro de Zoologia do Instituto de Investigação Científica Tropical ao cuidado do Prof. Travassos Dias, e o restante material ficou arquivado na Associação de Estudos Subterrâneos e Defesa do Ambiente e no Espeleo Clube de Torres Vedras.
Bibliografia
André, M., 1968 “Traité de Zoologie”, Ordre des Acariens; Tome VI Masson & Cie Éditeurs – Paris.
Borror, J., De Long, M., Triplehorn, A., 1979 “Study of Insects” Saunders College Publishing.
Palmeirim, Jorge M., 1990 “Bats of Portugal: Zoogeography and Systematics” Miscellaneous Publications nº 82, Museum of Natural History, Univ. Kansas.
Tendeiro, João, 1962 “Revisão Sistemática dos Ixodídeos Portugueses”.
Agradecimentos
Estamos particularmente gratos ao Prof. Travassos Dias pela preciosa orientação que nos prestou e principalmente pela amabilidade com que nos recebeu.
Agradecemos ao Prof. Jorge Palmeirim a indispensável informação que nos cedeu no que se refere à classificação dos morcegos.